Comunicação

Aprenda a divulgar notícias sobre suicídio

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Antes de mais nada, o suicídio é um assunto tabu nos dias de hoje. Todos reconhecem a importância de se atentar aos cuidados com a saúde mental, entendem que é preciso trazer o assunto à tona. Porém, muitas vezes, por insegurança ou por falta de conhecimento, a sociedade escolhe não falar ou relegar o assunto a locais de autoridade, como psicologia e a psiquiatria. Logo, precisamos tratar o suicídio com seriedade, com a melhor fundamentação teórica que estas áreas podem oferecer, entretanto, por ser um problema social, todos devem se engajar na discussão sobre ele.

Por isso, a Cria, como uma empresa de comunicação, entende que tem um papel fundamental na conscientização dos profissionais da mídia acerca de como se comunicar acerca do suicídio. Aproveitando o mês do Setembro Amarelo, nada mais adequado que comentar sobre o manual da OMS de prevenção ao suicídio para profissionais da mídia.

É inegável a influência da mídia na vida das pessoas ao moldar comportamentos, pensamentos e o consumo. Além disso, há um grande fluxo de informações que se obtém através dela todos dias, dada a velocidade com que as trocas ocorrem atualmente. Por isso, é preciso reconhecer que todos os meios de comunicação possuem um papel fundamental na prevenção do suicídio. Dependendo de como a cobertura for feita, ela pode impactar positiva ou negativamente nas questões que atravessam os espectadores.

Efeito Werther

Primeiramente, na literatura há um efeito conhecido, “Efeito Werther”. Ele se originou a partir do que aconteceu após a publicação de um clássico da literatura, O sofrimento do jovem Werther, de Goethe. Na história, o protagonista dá um tiro na cabeça após o seu amor não ser correspondido e houve uma onda de suicídios com circunstâncias semelhantes cometidos por jovens na Europa logo depois. Outros casos semelhantes a este foram descritos quantitativamente na literatura e é reconhecido, atualmente, que, segundo a OMS, “o grau de publicidade dado a uma historia de suicídio correlaciona-se diretamente com o número de suicídios subsequentes”. Além disso, há também relação entre a veiculação na televisão e o aumento de casos em até 10 dias após o ocorrido, ainda mais quando envolvem celebridades.

Decerto que o suicídio é um assunto que gera interesse, apesar dos jornais e telejornais não noticiá-los frequentemente, quando são, geralmente envolvem alguma situação atípica, seja por conta da pessoa, método ou lugar incomum. Assim, isso cria uma normalização na cabeça das pessoas, o que pode ser bastante prejudicial quanto à prevenção do suicídio, porque mostrar uma situação atípica como típica gera desinformação, o que pode afetar negativamente populações mais vulneráveis psicologicamente.

Dessa forma, vamos te ajudar com 10 orientações sobre como noticiar casos ou tentativas de suicídio de maneira responsável para prevenir a perda de vidas:

1. Não compare dados

Os critérios estabelecidos para registro e o baixo nível de procura por atenção médica (nos casos não fatais) tornam os dados sobre suicídios bastante imprecisos e de comparação direta inviável.

2. Use fontes de informação confiáveis

Um assunto tão delicado demanda uma pesquisa bem fundamentada, tenha certeza que as informações e dados apresentados são reais e foram interpretados de maneira correta.

3. Expressões

Não use expressões que expressam uma ideia de primeiro lugar como “o lugar com maior taxa de suicídios” ou “epidemia de suicídios”. Além disso, não devemos utilizar os termos “bem sucedido” ou “com/sem êxito”, substitua por “consumado” ou “não consumado”.

4. Aqui não é lugar pra primeira página

A cobertura do ocorrido deve ser minimizada à medida do possível, não devem ser notícias destaque nos meios mesmo que se trate de uma celebridade.

5. Detalhamento são danosos

Não faça descrições detalhadas dos métodos utilizados, muito menos utilize fotos do método, do falecido ou da cena. Além disso, não divulgue também cartas ou bilhetes suicidas.

6. Traga os problemas mentais anteriores

Se houver acesso ao histórico de saúde mental da vítima é importante que ele seja levado à tona.

7. Cuidado com as explicações

Não apresente o suicídio como inexplicável ou respostas à um único fator, seja pessoal, mudanças culturais ou degradação da sociedade, ele deve ser exposto como uma consequência de variados fatores que atingiam a vítima. Também é importante não atribuir culpa ou usar estereótipos culturais ou religiosos.

8. Pense nos afetados

Sempre considere como os sobreviventes (familiares e amigos próximos) serão afetados com a forma que a notícia vai ser feita e como os estigmas associados ao suicídio os afetarão.

9. Ênfase no luto

Não mostre a vítima como honrada pelo ato que realizou, foque no luto que passam os familiares e amigos, independente da relevância social que tinham, vítimas de suicídio não são um mártires.

10. Trabalhe na prevenção

É importante sempre trazer informações sobre canais para obtenção de ajuda, lista de sinais de alerta de comportamento suicida, quebrar o senso comum que os problemas mentais estão diretamente associados ao suicídio mostrando que eles podem ser tratados com ajuda profissional. Também demonstre empatia com os sobreviventes indicando, se houver, grupos de apoio. Nos casos não fatais apresentar as consequências físicas da tentativa pode agir com desestimulação, ajudando a salvar vidas.

Quer saber mais sobre o assunto? Então recomendamos a leitura do manual para profissionais da mídia feito pela OMS. E se você gosta de informações do mundo da comunicação, não se esqueça de acompanhar nosso blog.

Comitê de Diversidade e Inclusão

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