Por Júlia Travaioli / @juliatravaioli
“Fique rico em 10 dias”, “Aprenda a fórmula do sucesso” ou “Fature sem sair de casa”:
tenho certeza que você já leu pelo menos um desses três títulos nas suas redes sociais
alguma vez. Ao mesmo tempo em que o marketing digital evoluiu expressivamente em
termos técnicos nos últimos anos, surgiram, na mesma medida, profissionais que se dizem
especialistas e vendem soluções milagrosas aos montes.
De um lado, há aqueles que estudaram e estudam a área, aplicaram suas estratégias em
empresas reais e agora compartilham seus conhecimentos. De outro, há pessoas
má-intencionadas que, por meio de conteúdos rasos e estudos superficiais, enxergam ali
uma oportunidade de explorar trabalhadores desinformados que desejam atrair mais
clientes ou aumentar seu alcance. É quase como uma religião: com uma estratégia bem
articulada de discurso, promessa de mudança de vida e entrega de resultados, é possível
fazer com que qualquer um acredite em você e se converta em cliente.
Esse mercado é movimentado pela venda de cursos, e-books, mentorias e eventos,
principalmente. A título de exemplo, o “marketeiro” Érico Rocha, criador do curso “6 em 7”, é
um dos polêmicos e mais renomados profissionais desse meio. Graduado em Ciências da
Computação, Érico começou em 2014, com um negócio que ensinava pessoas a
comprarem e lucrarem com imóveis em leilão, e, ao descobrir um método de lançamento
americano, aplicou-o e conseguiu faturar 100 mil reais em apenas 7 dias – por isso o nome
do curso.
Érico Rocha em uma de suas palestras. Fonte Reprodução: FL insider.
Hoje, o profissional se apresenta como o principal especialista de Marketing Digital para
pequenos negócios on-line do Brasil, e, no seu posicionamento, costuma adotar frases
de impacto e vídeos motivacionais. Em um de seus eventos, compartilhou um vídeo de
uma mentorada: a história da mulher que vendeu a casa própria para pagar pela
mentoria do Érico, de 50 mil reais. Em uma entrevista da UOL, pergunta-se ao mentor
como ele se sente com a responsabilidade de divulgar o depoimento de uma pessoa
que vendeu a casa para comprar sua mentoria. “Eu realmente acredito no meu trabalho
e o empreendedorismo é assim: pode dar certo e pode não dar”, afirma. Diz ainda que
existem produtos mais baratos, na faixa dos R$ 3 mil, e compara o investimento ao
preço de uma faculdade.
Perceba que a promessa do enriquecimento milagroso sempre vem acompanhada da não
necessidade obrigatória de uma formação de ensino superior para atuação na área. Isso se
deve ao fato do marketing ser uma nicho relativamente novo e pouco explorado até os
anos 90, o que abre margem para discursos problemáticos.
André Oliveira, Gerente de CRM e ciclo de vida na Azos Seguros e criador de conteúdo na
internet, tem crescido principalmente por se posicionar contra o marketing apelativo. Em
uma entrevista para a Cria, ele diz: “O que mais me incomoda é o fato das pessoas
acharem que, pelo marketing ser uma área de estudo democrática e de fácil acesso, é
também uma área fácil de trabalhar e aprender. Não é porque temos muito acesso à
informação que o marketing é fácil para todo mundo. Isso precariza e prostitui toda a área,
punindo bons profissionais”. Ele completa dizendo que é uma pena assistir uma área tão
rica, que consegue inspirar marcas e pessoas a criarem conexões verdadeiras umas com
as outras, possuir colegas de profissão nem sempre de seriedade.
André Oliveira, nas redes, @olivamktig. Fonte Reprodução: André Oliveira.
Entretanto, mesmo com tantos profissionais negativos, sabemos que outros conseguem
crescer e se destacar enquanto mentores sólidos e de valor, que é o caso do André.
Quando questionado sobre o mercado estar saturado ou não, Oliveira responde que
existem profissionais bons e ruins em todas as áreas, mas normalmente, existem mais bons
do que ruins. “A grande diferença é que como o profissional de marketing sabe aparecer na
frente das pessoas – tanto para o bem, quanto para o mal – aquele mal intencionado tem
mais facilidade, conhecimento e habilidades para se fazer conhecido e, por isso, eles
aparecem mais para o usuário. Isso não quer dizer que existam mais profissionais mal
intencionados no marketing do que em outras profissões, só demonstra como o marketing
tem o poder de fazer as pessoas serem vistas e das mensagens serem transmitidas,
independente da qualidade ou conhecimento de um profissional”, é o posicionamento do
gerente.
Mas, e para se diferenciar e se destacar em meio aos ruins, como devo fazer? Muitos
apontam que, para se destacar nesse mercado de trabalho, a ideia é saber se mostrar um
profissional vulnerável, com erros e acertos. Um estudo da Catalyst – rede global de
empreendedores sociais -, em 2021, apontou que 17% dos colaboradores tendem a
entregar mais do que foi pedido e são 12% mais criativos quando notam que seus líderes
demonstram ser vulneráveis. André confirma a tese, e afirma que você só é valorizado se,
ao conseguir construir algo, mostra para as pessoas como aquilo está sendo construído.
“Apresentar tanto os resultados ruins quantos os bons, aumenta sua credibilidade, te mostra
mais humano e expõe o processo que você passou para crescer”, ele completa.
O marketing pode ser uma profissão silenciosa, pode parecer saturada e até mesmo
ultrapassada, mas só para quem deseja ganhar dinheiro fácil. Mantenha seu pé no chão,
compartilhe o processo e mostre a realidade. Faça com que as pessoas se identifiquem
com você e estude até seu trabalho entregar resultados claros. E para você que quer
aprender a aplicar marketing no seu negócio, entenda de uma vez por todas: não existe
fórmula nem mentor mágico. A única maneira de chegar até o sucesso é por meio de
constância e confiança em profissionais de verdade.
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Parabéns ! Excelente texto